Foram tantos os casos de corrupção e irregularidades na aplicação de recursos públicos denunciados esta semana que a gente nem sabe por onde começar.
Basta ficar um dia sem escrever que o entulho se acumula nas manchetes dos jornais. Qual caso é mais grave?
O do ministro das Cidades, Mário Negromonte, que autorizou, com adulteração de documentos, um “aditivo” de R$ 700 milhões numa obra viária para a Copa do Mundo em Cuiabá?
Ou o do prefeito de são Paulo, Gilberto Kassab, que teve seus bens bloqueados pela Justiça para garantir o ressarcimento de R$ 1 bilhão aos donos de carros e aos cofres públicos no processo sobre irregularidades cometidas para repassar a uma empresa privada (a Controlar, que financiou sua campanha eleitoral em 2008) o serviço de inspeção veicular na cidade.
Não se trata de um critério só de valores envolvidos, alguns milhões a mais ou a menos transferidos dos cofres públicos para bolsos privados. Mais do que as cifras, impressiona o “modus-operandi” e a desfaçatez dos denunciados por estas novas maracutaias.
O que têm em comum o ministro Negromonte e o prefeito Kassab? Ambos são crias do mesmo líder político, o inefável Paulo Maluf, símbolo maior do poder exercido em benefício próprio.
Ainda deputado federal, Maluf sumiu do noticiário e anda na moita à espera do julgamento dos seus muitos processos, mas seus métodos continuam servindo de modelo para muitos seguidores.
Negromonte foi indicado para o cargo de ministro das Cidades pelo PP, o Partido Progressista (!?) de Paulo Maluf.
Rifado pelo seu próprio partido, Negromonte chorou ontem em cerimônia pública na Bahia, já sabendo que vai perder o cargo na anunciada reforma ministerial, se é que se sustenta até lá.
Kassab surgiu na vida pública pelas mãos do esquema político malufista em São Paulo e foi secretário de Planejamento do falecido prefeito Celso Pitta, também cria de Maluf.
Passou a semana em Paris e se limitou a divulgar uma nota burocrática, informando que “tomará as medidas judiciais que julgar oportunas” para liberar seus bens bloqueados.
As siglas foram mudando de letras ao longo do tempo, sem perderem suas características, que aliam o conservadorismo mais tosco a um certo desleixo, digamos assim, com a grana dos nossos impostos.
Lá atrás, estes patriotas se abrigavam na Arena, o partido criado pelos militares para dar sustentação parlamentar aos governos dos generais. Com a redemocratização, surgiram o PDS, que depois se subdividiu em PFL, mais tarde rebatizado como DEM, PP e outras siglas menores.
Para completar a salada, Gilberto Kassab comandou este ano a criação de mais uma sigla, o PSD, que, segundo ele mesmo, não é de direita, nem de esquerda, nem de centro, e pretende apenas ser um partido da situação, em qualquer situação ou latitude.
Sem condições de disputar o poder central ou mesmo governos estaduais mais importantes, estas siglas aliam-se, em troca de cargos e verbas públicas, conforme as conveniências do momento, aos dois grandes partidos, PT e PSDB, que sem eles não conseguem garantir a chamada “governabilidade”.
Da mesma forma, sobrevive como grande fiel da balança, o PMDB velho de guerra, que fazia contraponto consentido à Arena.
Aí está a raiz dos esquemas de corrupção montados por toda parte, que clamam por reforma política, reforma eleitoral, reforma partidária _ a reforma do Estado, enfim.
Nada indica que isto acontecerá tão cedo. O país já está entrando em clima de festas de fim de ano, a presidente Dilma Rousseff vai tirar férias numa base militar, o Congresso Nacional se prepara para entrar em recesso e não há previsão de data nem para a reforma ministerial, que já vem tarde.
Chegamos ao final do ano exatamente como começamos, com os governantes reagindo apenas em função das denúncias publicadas pela imprensa e de decisões da Justiça.
Destaques da semana, o baiano Mário Negromonte e o paulistano Gilberto Kassab são produtos da mesma estrutura viciada com prazo de validade vencido que continuam sendo oferecidos ao eleitorado.
No ano que vem, temos novas eleições marcadas. Como mudar este cenário pouco animador?
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