Da Redação
“Ainda carrego um triste sentimento de ter sido usado para montar essas mentiras”, afirmou Silvado Leung Vieira, o autor da mais importante imagem da história do Brasil nos anos 1970. A foto de Vladimir Herzog morto nas dependências do DOI-Codi, pendurado por uma corda, tornou-se um símbolo da repressão promovida pela ditadura militar (1964-85) e contribui decisivamente para o enfraquecimento da linha dura do regime. Em entrevista exclusiva à Folha de S. Paulo, o fotógrafo contou, pela primeira vez, detalhes sobre sua atuação.
Numa cela de um dos principais órgãos da repressão, o DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna), Silvaldo fez em 25 de outubro de 1975, fez o registro de um dos momentos de maior importância para a história brasileira recente. Ele tinha 22 anos na época e era aluno do curso de fotografia da Polícia Civil de São Paulo.
Ele contou que quando foi chamado ao local, a cena do “suicídio” estava pronta: o corpo pendia de uma tira de pano atada à janela. “Não tive liberdade. Fiz aquela foto praticamente da porta. Não fiquei com nada, câmera, negativo ou qualquer registro. Só dias depois fui entender o que tinha acontecido”, disse. “Tudo foi manipulado e infelizmente eu acabei fazendo parte dessa manipulação.”
Vivendo em Los Angeles desde agosto de 1979, Silvado saiu de férias do cargo de fotógrafo do Instituto de Criminalística e nunca mais voltou. Sentindo-se ameaçado e perseguido pelo regime a que serviu, ele afirma não ter tido alternativa a não ser abandonar o emprego no serviço público e também o país.
Torturado e espancado até a morte
O jornalista Vladimir Herzog, compareceu espontaneamente ao DOI-Codi, após ter sido procurado por agentes da repressão em sua casa e na TV Cultura, onde trabalhava como diretor de jornalismo. Ele tinha ligações com o PCB (Partido Comunista Brasileiro), mas não chegou a ter atividades na clandestinidade.
Segundo relatos de testemunhas, Vlado, como era conhecido pelos amigos, foi torturado e espancado até a morte. A imagem produzida por Silvaldo ajudou a derrubar a versão do suicídio, uma vez que seu corpo pendia de uma altura de 1,63 m, com as pernas arqueadas e os pés no chão, o que torna altamente improvável que tenha se matado.
A morte gerou manifestações, como a famosa missa na catedral da Sé, em São Paulo, e contribuiu para que o presidente Ernesto Geisel e seu ministro Golbery do Couto e Silva vencessem a queda de braço com a linha dura da ditadura, que pedia um aperto na perseguição à esquerda, sob o argumento de que o país vivia a ameaça do comunismo.
Com informações da Folha de S. Paulo
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