A nova geopolítica internacional foi o tema do seminário que marcou o
aniversário de 10 anos do PT no governo federal, evento que aconteceu
na noite de terça-feira (14/5) no Teatro Bourbon Country. O assunto foi
apresentado por Marco Aurélio Garcia, assessor da presidência para
assuntos internacionais, que trouxe uma análise muito positiva do
posicionamento do Brasil no cenário internacional. Porém, o que os cerca
de mil militantes que lotavam o teatro esperavam eram as falas dos
líderes do decênio que mudou o Brasil: Dilma e Lula.
Garcia abriu o encontro mostrando que hoje o mundo olha para o
exemplo brasileiro em busca de soluções para os problemas econômicos,
mas principalmente sociais. “Hoje, o Norte está no Sul. É para o Brasil
que olham em busca do caminho para vencer as tendências conservadoras e
sacudir os partidos de esquerda dos países desenvolvidos. Temos a
missão, de juntos, construir novos paradigmas”, frisou.
Para Garcia, o grande acerto do governo Lula foi ampliar as relações
externas e priorizar o fortalecimento da América Latina, com resultados
expressivos. A presença comercial do Brasil aumentou em todas as regiões
do mundo, e as trocas comerciais brasileiras quadruplicaram na última
década. Em 2003, o fluxo do comércio exterior brasileiro foi de U$S 122
bilhões. Em 2012, a cifra saltou para U$S 466 bilhões. Isso foi decisivo
para que o País passasse da posição de 15ª economia mundial em 2013
para o 6º lugar em 2013.
Ato político
O governador Tarso Genro abriu o ato político salientando que agora se inicia um novo ciclo no projeto democrático do país. O chefe do Executivo gaúcho disse que o desenvolvimento e a radicalidade democrática, conquistados a partir de Lula e consolidados com a presidenta Dilma, passará por um período de novos desafios. “Isso se dá por três razões: a grande mobilidade social promovida pelo governo, que significa que foram lançados no mercado e na cidadania mais de 40 milhões de brasileiros; poque, como dizem Lula e Dilma, o cenário global que é de crise é também de delegação para países como nosso; e por último porque a oposição está sem rumo e sem projeto”, disse.
O presidente nacional do PT, deputado Rui Falcão, salientou que o
Brasil continua precisando de reformas e convidou toda a militância para
divulgar e participar do projeto de lei de iniciativa popular pela
reforma política. Falcão também disse que está na hora do governo dar um
segundo salto. “O futuro não é mero prolongamento do presente. Queremos
que este segundo salto complete sua trajetória e que o fim da pobreza
seja apenas o começo. Que consigamos realizar todas as reformas que o
país merece: política-eleitoral, tributária, de Estado, com expansão da
liberdade de expressão. O PT quer continuar governando com Dilma no
comando e tendo o povo como protagonista”, falou.
A fala do ex-presidente Lula incendiou o público. Entre brincadeiras
(“Dilma, depois que a gente vira ex-presidente é um problema, ninguém
mais traz água para a gente”) e dados sérios (“O Brasil virou um país
importante na geopolítica internacional. Tínhamos sido a 8ª economia do
mundo, caímos pra 13º e hoje somos a 6ª. Não tínhamos representação
internacional, hoje temos FAO, a OMC e, se der certo, os Direitos
Humanos da OEA”) que comprovam o sucesso da década petista no governo
federal, Lula atraiu muitos aplausos.
O ex-presidente também falou sobre política internacional. Salientou
que o governo superou a problemática subordinação do Brasil à Alca e
priorizou o fortalecimento da América Latina, América do Sul e Mercosul.
“Vencemos o complexo de vira-lata que tomava conta do país.
Fortalecemos o Mercosul, construímos a Unasul, buscamos a unidade entre
América do Sul e África, América do Sul e Oriente Médio; a presidenta
Dilma fortaleceu os BRICS e Ibas. O Brasil não precisa pedir licença pra
fazer jogo na política internacional. Não somos mais coadjuvantes e
isso exige mais do governo e da sociedade brasileira”, disse.
Da política internacional para a relação com o povo, Lula salientou
que a participação e os canais abertos do governo para ouvir as críticas
e sugestões é o que fazem a diferença em um governo. “A melhor coisa do
governo é a relação com as pessoas. Ponte, viaduto todo mundo faz
igual, a diferença é a aliança com o povo, a crença de que nós podemos
fazer a diferença. Os ricos não precisam do governo, quem precisa é a
parte pobre da população e o Estado tem que governar pra ela.”
Lula ainda arrancou risos com brincadeiras com a rivalidade Grenal,
fez piada da maneira como a grande mídia retrata o Brasil e apostava que
ele e Dilma se desentenderiam assim que ela assumisse o poder. Para
encerrar, convidou a plateia a uma reflexão. “No dia em que vocês
acordarem com alguma dúvida sobre o que o PT fez nesse país, fechem os
olhos e imaginem o que seria desse país sem os 10 anos de PT.”
A presidenta Dilma iniciou sua fala elogiando a militância gaúcha
pelos 33 anos do PT e pela presença que tem no governo e na construção
da última década. Dilma também abordou a questão internacional e disse
que esse é um dos setores em que fica mais evidente o quanto o país
avançou. “Os ganhos que tivemos com nosso reposicionamento internacional
são muitos e importantes. Exemplos disso são a escolha do diplomata
brasileiro Roberto Azevedo para a direção geral da OMC e a eleição do
ex-ministro da Segurança Alimentar e Combate à Fome José Graziano da
Silva para comandar a FAO são exemplos claros do nosso protagonismo no
cenário internacional”, disse.
Para Dilma, o sucesso na área internacional acontece porque o Brasil
aplica a concepção de que os relacionamentos devem ser baseados no
respeito e repulsa as práticas tradicionais que subjugam os outros
países. “Temos a marca do respeito pelos outros países, reconhecemos as
necessidade de benefícios mútuos. Países com maior força econômica e
política precisam ser mais generosos, é o que eu chamo de princípio
‘Lula da Silva’ nas relações internacionais”, revelou.
A presidenta salientou que o Brasil hoje dá exemplo e perspectivas.
“Somos das vozes que se erguem para dar ao mundo um caminho. A visão que
se tem é mais realista, pois percebem o imenso potencial que temos
aqui. Nos respeitam também pelo fato de que, durante o período de crise,
fomos o país que mais criou empregos no mundo”, exemplificou. Dilma
também negou os boatos sobre a fragilidade da Petrobras. Segundo a
presidenta, o leilão realizado pela Agência Nacional do Petróleo é uma
das evidências de que a petrolífera brasileira continua forte e com
confiança internacional.
Dilma encerrou lembrando uma crônica de Luis Fernando Veríssimo
escrita durante a composição do governo Olívio, em que descrevia o
secretariado e ela era definida como “gaúcha de propósito – nos dois
sentidos”. “Isso diz muito sobre o coração e o que se aprende aqui no
Rio Grande do Sul. É fundamental teimar e ter posições claras.” Dilma
disse ainda que o PT nasceu representando o novo e que, 33 anos depois,
ainda o representa.
Por Paula Coruja
Foto João Eduardo
Foto João Eduardo
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