Pela primeira vez na história, as dívidas estudantis contraídas nos Estados Unidos superaram as dívidas dos americanos com cartões de crédito. A previsão é de que ela alcance US$ 1 trilhão ainda este ano, levando bancos e fundos de investimento a emitirem alertas de um novo risco de default. O medo é de calote, e desta vez por parte da juventude americana.
Segundo contas feitas pelo New York Times, é como se cada americano que precisou de empréstimo para pagar um bacharelado universitário devesse, em média, 24 mil dólares. Dívida demais para uma juventude arrochada pelo desemprego, que contrai empréstimos para estudar mas não consegue trabalho para pagá-los.
Desde 2007, segundo dados oficiais compilados pela Children Defense Fund, a taxa de desemprego para jovens de 16 a 29 anos cresceu até 80% nos Estados Unidos. Os mais afetados foram jovens de até 20 anos – os teens americanos -, que viram seus níveis de emprego caírem de 45,5%, em 2000, para 27% em 2010.
O revés comeca a afetar a popularidade de Obama junto a este quinhão importantíssimo do eleitorado. Afinal, sua promessa de esperança é tida por analistas como uma das principais razões para fazer, da última eleição, o pleito com maior participação juvenil da história presidencial americana: 23,4 milhões de pessoas, ou quase um em cada cinco votantes. À época, Obama abocanhou 66% dos votos dos eleitores com até 30 anos. E se então a esperança vencia o medo, não é bem o que parece suceder hoje.
Em consulta nacional realizada este ano pela organização Generation Oportunity com americanos de 19 a 29 anos, 44% dos entrevistados disseram desaprovar a forma como Washington vem conduzindo a crise de desemprego juvenil nos Estados Unidos, contra 31% de aprovação. Ainda mais sintomático, 77% destes mesmos jovens disseram estar adiando mudanças substanciais de vida devido às atuais restrições econômicas, ao passo que 27% admitem ter deixado para depois a volta à escola ou a programas de qualificação profissional.
Tudo isso já seria motivo para muito pessimismo, não fosse outro fator igualmente decisivo no tabuleiro americano. Do lado desta crise está outra, ideológica, que florece do medo infundido pela política antiterror inaugurada desde os atentados de 11 de setembro.
Segundo pesquisa realizada em junho deste ano pelo instituto Poll Harris, 42% dos adolescentes americanos disseram ter medo de que um ataque terrorista aconteça perto deles, ao passo que um em cada três se diz menos otimista sobre seu futuro em decorrência da guerra ao terror. Foram ouvidos 1.227 jovens entre 8 e 18 anos, e que, portanto, não tinham nascido ou eram apenas crianças quando as torres caíram. Está longe de ser um detalhe trivial, já que se trata da primeira geração jovem americana quase que inteiramente forjada dentro do ambiente antiterror.
E o que pensam estes jovens de tudo isso? Apesar de mais descrentes com relação à capacidade de Washington em enfrentar a ameaça terrorista, 64% discordam que o país deva interromper as ações militares em curso, enquanto 57% aprovam as ações tomadas pelas Forças Armadas desde o 11 de setembro.
Nos anos 60, sob o guarda-chuva hippie, millares de jovens americanos foram às ruas pregar paz e amor entre ondas de ácido e atos pela ampliação dos diretos civis nos Estados Unidos. Armados de flores e novas redes horizontais de organização, exigiram o desarmamento nuclear e uma alternativa ao sonho careta do square americano.
Apesar de qualquer crítica sobre a apropriação de seus valores pela própria indústria cultural americana, não se pode negar que constituíram um movimento baseado na recusa da guerra e na esperança de um outro mundo possível.
Cerca de 50 anos depois, e dez após os atentados de 11 de setembro, a atual geração coloca à prova sua capacidade de mobilizar-se uma vez mais.
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